Alguém terá dito um dia: "Nós nascemos para o belo."
O "Belo" alimenta-nos a alma. Num mundo cada vez mais inundado de coisas feias e cheio de "ruído", todos precisamos de parar um pouco; de encontrar momentos de contemplação, de paz e de tranquilidade onde o "Belo" possa inundar o nosso interior.
O Santuário de Nossa Senhora dos Milagres é um local belo e único, onde cada um de nós, crente ou não crente, poderá encontrar algo de essencial para o seu equilíbrio. Para o crente poderá ser ter um momento de oração e de encontro com Deus, guiado pela mão da Mãe de Jesus. Para o não crente, poderá ser encontrar-se com o seu interior; parar um pouco e encontrar um momento de tranquilidade e de paz. Aqui é possível ter um momento de silêncio, em que podemos fazer a nossa oração, a nossa reflexão ou simplesmente procurar sentir o que vai no nosso interior.
Apesar de a construção que hoje existe datar presumivelmente do séc. XVII, a origem desta ermida remonta ao séc. XVI. Conta a lenda que, no ano de 1578, andava por estes campos uma pastorinha a guardar o seu pequeno rebanho de ovelhas. Seria um dia de verão e estava muito calor. Sob um sol ardente, a menina sentiu-se aflita, com muita sede, e começou a chorar por não encontrar água para beber. Foi então que lhe apareceu Nossa Senhora, que cavou com as suas mãos uma cova de onde brotou água pura e cristalina para a menina matar a sua sede. A Virgem disse então à pastorinha para ir contar a seus pais o que acontecera e pediu que fosse ali construída uma ermida em sua honra. O povo, cheio de fé e reconhecido pelo milagre, ergueu a capela no cimo do monte sobranceiro à fonte e dedicou-a a "Nossa Senhora dos Milagres".
O santuário, que a dada atura foi também conhecido como "Nossa Senhora da Fonte Santa" ou da "Água Santa", rapidamente se tornou num local de grande devoção, recebendo inúmeros peregrinos de toda a região envolvente e até mesmo um círio vindo desde Lisboa.
Durante os séculos XVII e XVIII o edifício foi sendo melhorado, nomeadamente através de novas pinturas e azulejos. Também em 1720 foi construída uma habitação anexa, destinada a acolher os peregrinos vindos de Lisboa.
O santuário situa-se num local relativamente isolado e infelizmente, no ano de 2009, foi assaltado por diversas vezes, tendo sido roubado tudo o que tinha valor. Desapareceu a antiga imagem de Nossa Senhora dos Milagres, várias imagens de santos, ex-votos valiosos e até mesmo o modesto sino de bronze foi furtado. Uma das imagens foi entretanto recuperada pela polícia em 2023, mas a imagem de Nossa Senhora que hoje existe no humilde retábulo da capela-mor é uma réplica moderna da imagem antiga, a qual continua desaparecida. Actualmente o local já possui um sistema de alarme contra intrusão.
Para além de alguns casamentos e outras celebrações ocasionais, hoje em dia ocorrem duas grandes festas anuais no santuário. Na Quinta-Feira de Ascensão (Dia da Espiga) é realizada uma procissão pelos caminhos em redor do santuário, durante a qual se faz a tradicional bênção dos campos, seguindo-se a celebração de uma Missa. E no penúltimo Domingo de Agosto é organizado um grande almoço convívio, seguido de Missa e procissão, para angariação de fundos destinados à conservação e manutenção deste santuário. Estas festas, assim como outras actividades, são habitualmente divulgadas através das páginas da Paróquia de Dois Portos e do Santuário no facebook. Costumam também ser anunciadas no jornal Badaladas de Torres Vedras.
"Nossa Senhora", "Virgem Maria" ou simplesmente "Maria" foi a mulher que deu à luz Jesus Cristo, há cerca de dois mil anos em Belém, na Palestina. Descreve o evangelista S. Lucas que, sendo Maria ainda donzela, teve a aparição de um Anjo, que lhe comunicou que iria ser mãe pela graça de Deus. Perante a objecção - perfeitamente natural - de Maria: “não tenho homem”, o Anjo acrescenta: “o Espírito Santo descerá sobre ti e o Altíssimo cobrir-te-á com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de ti será chamado Filho de Deus.” E depois de anunciar também o nascimento de João Batista de pai velho e mãe estéril, o Anjo conclui: “Porque a Deus nada é impossível.”
Maria está presente no início da vida pública de Jesus, quando Ele realiza o seu primeiro milagre nas bodas de Caná. As palavras que Maria diz aos serventes são as mesmas que continua hoje a dizer a cada um de nós: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Quando Jesus é pregado na Cruz, Maria está também presente. Do alto da cruz, Jesus dirige o olhar para sua Mãe e, referindo-se ao Apóstolo João que também ali se encontra, diz estas palavras: “Eis o teu filho”. Depois, dirigindo-se a João, acrescenta: “Eis a tua mãe." E o texto conclui: “E desde aquela hora, João recebeu Maria em sua casa.” (S. João, cap. 19, 26). Nesse momento Maria é entregue como Mãe de todos nós. Uma Mãe que carinhosamente deseja levar o seu Filho Jesus ao coração de cada ser humano, ao coração de cada um de nós.